Regata João das Botas mantém tradição dos saveiros no mar da Baía de Todos-os-Santos

Imortalizados nos romances do escritor Jorge Amado e nos versos do compositor Dorival Caymmi, os saveiros da Bahiaresistem ao tempo e aos avanços tecnológicos. Até a década de 1940, os saveiros eram o principal meio de transporte no Recôncavo baiano, responsáveis por quase 90% do abastecimento da capital. Nesta época mais de mil embarcações cruzavam o mar da Baía de Todos-os-Santos. Ainda hoje os saveiros despertam o interesse em muitos apaixonados por esse tipo de embarcação, como o administrador carioca Ricardo Vega. Há quatro anos ele sai do Rio de Janeiro, onde mora, e vem a Salvador participar da tradicional Regata João das Botas com o saveiro de vela de içar Mensageiro do Destino. Organizada pelo Comando do 2º Distrito Naval, através da Capitania dos Portos da Bahia (CPBA) e com patrocínio da Braskem, a competição realiza sua 42ª edição neste domingo, dia 26, com largada da praia do Porto da Barra, a partir das 13h. A regata segue até próximo da Ilha de Itaparica, prossegue para a Cidade Baixa e retorna ao ponto de início.

Foto: Luis Pereira
Foto: Luis Pereira

“Considero os saveiros um dos barcos mais bonitos, apesar da simplicidade e rusticidade dos equipamentos de navegação. Nesse tipo de embarcação o que mais importa é a sensibilidade do mestre em velejar”, afirma Ricardo Vega, que levou nove meses para construir o Mensageiro do Destino, no município de Valença, distante 119 km da capital baiana. O saveiro, que têm 15 metros de convés e vela principal com 18 metros de altura é a caçula das embarcações do tipo e já ganhou a Regata João das Botas na categoria saveiro de vela de içar em três oportunidades.

Outro aficionado por saveiros é Antenor Neto do Nascimento Paixão, mais conhecido como “Palito”. O empresário do setor de transportes marítimos é o atual proprietário do O Tal, saveiro construído em 1949, pelo médico José Figueiredo, na comunidade de Amoreiras, na Ilha de Itaparica. “Esse saveiro foi comprado por meu pai que utilizava para transportar pescados e frutas de Salinas da Margarida para Salvador, além de participar dascompetições”, explica Palito. Desde 1969, a embarcação compete na Regata João das Botas, se destacando desde a primeira edição, ficando em 2º lugar, quando o percurso da competição saía da Praia da Inema em direção ao Porto da Barra. “Já ganhamos 10 regatas consecutivas”, ressalta o orgulhoso proprietário do barco, que têm 8,2 metros de comprimento e vela principal de 16 metros de altura, sendo uma das quatro embarcações deste modelo que ainda resiste. “Iguais ao O Tal, só existe o Ciclone, o Bambolê e o Noroeste”, afirma.

Um dos representantes mais antigos da categoria vela de pena é o saveiro Ciclone, que desde 1956 cruza o mar da Baía de Todos-os-Santos. A embarcação pertencente ao mergulhador profissional aposentado, Edson Rodrigues Saldanha, o “Abelha”, que integra o Clube dos Saveiros da Ilha de Itaparica. “Temos registrados no Clube 52 saveiros, mas atualmente esse número está reduzindo a 36 embarcações que ainda são utilizadas no transporte de produtos e na pesca artesanal”, diz Abelha.

Em 2010, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão do Ministério da Cultura, tombou o saveiro Sombra de Lua como Patrimônio Nacional. Com o tombamento, a embarcação que têm 85 anos, deverá ser conservada e restaurada apenas com peças originais. O saveiro que tem 12,5 metros de comprimento e um mastro com cerca de 18 metros de altura, semanalmente transporta cerâmicas produzidas em Maragogipinho para a Feira de São Joaquim, em Salvador.

“O Sombra de Lua, junto com o É da Vida e o Vendaval, são os únicos saveiros originais ainda existentes. Eu e meus sócios investimos R$ 20 mil na compra do barco e mais R$ 26 mil no restauro, incluindo calafate e pintura do barco”, explica Pedro Bocca, um dos donos da embarcação. Ele preside a Associação Viva Saveiro, que reúne os mestres e proprietários de saveiros de vela de içar da Bahia. Segundo inventário realizado pela Associação, em 2008, apenas 20 embarcações desse tipo estão em atividade no Estado.

Origem da Regata João das Botas

Em 1969, o Comando do 2º Distrito Naval (Com2ºDN), por intermédio da Capitania dos Portos da Bahia (CPBA) resolveu organizar uma regata de saveiros para que a população pudesse apreciar o belo espetáculo das velas ao mar. Em 1972, a Regata recebeu como patrono o Almirante João Francisco de Oliveira Botas, mais conhecido como João das Botas – herói da Guerra da Independência, na Bahia. “O patrocínio de ações e iniciativas culturais faz parte da política de Responsabilidade Social da Braskem. Ao apoiar a Regata João das Botas, temos como objetivo contribuir para a preservação de umas das mais belas tradições náuticas da Bahia, que são os saveiros de vela”, ressalta Emmanuel Lacerda, gerente de relações institucionais da Braskem na Bahia.

O comandante José Antonio Freitas Costa, Capitão-de-Mar-e-Guerra e organizador da prova, afirma a importância do patrocínio para a manutenção da Regata. “Graças ao patrocínio da Braskem, que nos permite inclusive ofertar um prêmio em dinheiro para os três primeiros colocados, nos últimos anos temos conseguido manter a maioria dos saveiros não só de vela de içar, como os peneiros, em atividade, buscando manter vivo esse pedaço da nossa gloriosa historia”, lembra o comandante.

Serviço:

O que: 42ª Regata João das Botas;

Data: 26 de janeiro (domingo);

Horário: A partir das 13h;

Largada: Paia do Porto da Barra.