“A grande época do ideal casamenteiro, onde a felicidade está atrelada ao outro está acabando”, afirma Contardo Calligaris

O psicanalista e cronista italiano encerrou a temporada 2015 do Fronteiras Braskem do Pensamento, em Salvador

Fronteiras do pensamento Braskem, realizado no Teatro Castro Alves em Salvador(BA). Foto: Ulisses Dumas / Ag: BAPRESS
Foto: Ulisses Dumas / Ag: BAPRESS

“Somos tão perdidamente convencidos das recompensas da vida coletiva, que não queremos proporcionar as nossas crianças a solidão. Deveria ser estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente o direito ao tédio”. Com essas afirmações, o psicanalista e cronista italiano Contardo Calligaris, encerrou a temporada 2015 do projeto Fronteiras Braskem do Pensamento, em Salvador. A conferência, que teve como tema Juntos seria sempre melhor?, lotou na noite dessa quinta-feira, dia 01/10, a plateia do Teatro Castro Alves. Durante o evento, Calligaris falou sobre como é difícil ficar sozinho, principalmente do ponto de vista feminino e de como o sonho da felicidade plena, que só seria alcançada com o casamento, cerceou muitas mulheres. “Esperamos que o outro seja a cura dos nosso males quando, na verdade, será a quem vamos acusar de não estarmos felizes, de não ser o que poderíamos ou queríamos ser”, aponta.

Segundo o especialista, foi entre as décadas de 1960 e 1970 que o ideal de convivência nos conquistou. Mas, para ele a grande época do ideal casamenteiro, onde a felicidade está atrelada ao outro está acabando. “Em 1890, por exemplo, 34% das mulheres americanas eram solteiras. Em 1960 eram só 17% e em 2013, o percentual de mulheres não casadas nos Estados Unidos era de 53%”, ressaltou. O evento, que teve o patrocínio da Braskem e do Governo da Bahia, através do Fazcultura, e Secretarias de Cultura e da Fazenda, com realização da Telos Cultural e Caderno 2 Produções, foi apresentado pelo jornalista Fernando Sodake e teve como debatedor, o psicanalista Marcelo Veras, diretor da Escola Brasileira de Psicanálise e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Foto: Ulisses Dumas / Ag: BAPRESS
Foto: Ulisses Dumas / Ag: BAPRESS

Casamento X Felicidade

Contardo Calligaris, que é doutor em psicologia clínica pela Universidade de Provence, citou uma pesquisa realizada em 1962, em que cerca de 90% das mulheres americanas casadas se diziam extremamente felizes com o matrimonio. Mas, apenas 10% dessas mulheres gostariam que suas filhas cassassem ou que cassassem tão cedo. “Estamos redescobrindo que o outro não é e nunca foi o horizonte de nossas vidas e que a intimidade com o outro é sempre ameaçadora para nossa autonomia”, adverte.

Quando perguntado pelo público se acreditava que os contos de fadas eram os responsáveis pelo ideal de casamento perfeito, Calligaris respondeu que, “são apenas histórias de encontros e não de casamentos. Os autores encerram os contos na parte do casamento e dizem que foram ‘felizes para sempre’, mas sem mostrar como, justamente porque essa parte da história seria uma comédia”, diverte-se. O psicanalista explica ainda que “as mulheres não podem acreditar que os homens são príncipes encantados, até porque as mulheres também não são princesas”, provoca.