“A felicidade não é uma coisa inalcançável”, afirma Valter Hugo Mãe no Fronteiras Braskem do Pensamento
“O mais novo escritor baiano”. Foi assim Valter Hugo Mãe, nascido em Angola e radicado em Portugal, pediu para ser apresentado no início de sua conferência no Fronteiras Braskem do Pensamento, realizada na noite dessa segunda-feira (dia 05/09), em Salvador. O autor de o nosso reino, o remorso de baltazar serapião, o apocalipse dos trabalhadores e a máquina de fazer espanhóis – série de obras conhecidas como a tetralogia das minúsculas, por terem sido escritas sem letras capitais -, mostrou todo o seu carisma, sensibilidade e talento, arrancando gargalhadas e seduzindo o público baiano, que lotou a sala principal do Teatro Castro Alves. O evento tem patrocínio da Braskem, conta com o apoio da Rede Bahia e Unijorge, e realização Telos e Caderno 2 Produções Artísticas.
O escritor abriu a conferência com um texto inédito sobre as diversas reações e pedidos que ele, como escritor, ouve em suas andanças. “Escreva um romance sobre moças que gostam de moças, porque não engravidam. Elas são como os escritores que só usam a língua portuguesa. Já minha mãe quer que eu escreva sobre a felicidade para que seja algo que eu não possa perder”.
A felicidade, aliás é tema recorrente em suas obras. Para Valter Hugo Mãe, “a felicidade é uma construção da consciência. Eu acredito numa felicidade que seja uma maturação do conhecimento, o entendimento de que a tristeza é uma construção para a felicidade”. Valter afirmou ainda que “a felicidade não é uma coisa inalcançável. É muito mais concreta. Passamos a vida toda esperando que alguma coisa errada em nós mude, quando deveríamos aceitá-la. Eu sou frequentemente feliz aceitando as minhas perdas e as minhas limitações. A felicidade é um exercício de consciência”, resumiu.
Coube ao jornalista e também escritor Edney Silvestre mediar o debate com a plateia. Quando perguntado sobre a sensação de estar em Salvador pela primeira vez, Mãe respondeu que até se sentia “estúpido” por não ter vindo antes. “Conheço muitos lugares no Brasil e muitas pessoas me diziam que, enquanto eu não viesse a Bahia não teria conhecido o Brasil. Eu achava que a Bahia era um dos lugares supérfluos para um escritor português conhecer. Mas, ao chegar ao Pelourinho, só não chorei por que tinha muita gente olhando para mim”, confessou.
Reconhecido por seu conterrâneo José Saramago como um “tsunami literário” já na publicação de seu segundo romance, Valter Hugo Mãe reconheceu na Bahia um radical português enriquecido. “É como um passado de Portugal bem-sucedido. É como se a Bahia tivesse conseguido sanar a história. O que se torna comovente na Bahia é que uma história horrenda se torna quase uma justiça ao passado que nós herdamos”. Ainda sobre sua visita ao Centro Histórico de Salvador, o escritor relatou ter escutado um funk do Pokémon. “Eu não sabia que existiam canções assim. A gente não sabe se dança ou se tira a roupa”, disparou Valter, provocando uma gargalhada na plateia.
Sobre seu processo produtivo Valter Hugo Mãe, afirmou sentir uma certa depressão ao terminar de escrever um livro. “Depois a gente sente uma alegria, como se estivesse solteiro, livre para começar outras paqueras, começar a escrever outros livros. E o próximo livro é uma tentativa de conseguirmos alcançar a plenitude”, explicou Valter, que acaba de divulgar o título do seu novo livro “O Homem imprudentemente poético”, que será lançado no Brasil em novembro. “Eu acreditei em muitas coisas na minha vida, mas demorei muito para acreditar em mim, que é uma das coisas fundamentais”.
Quando questionado por Edney Silvestre sobre “o seu despudor incomum aos escritores”, Valter respondeu: “é uma coisa maravilhosa que as pessoas tenham vindo de lugares distintos para estarem aqui. Por isso, eu não viria para ser metade de mim. Por isso essa minha entrega”, conclui. No final da conferência Valter Hugo Mãe ainda encontrou disposição para autografar seus livros no foyer do teatro.