Documentário inédito sobre Leila Diniz abre o 54º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

Já que ninguém me tira para dançar, documentário inédito sobre a atriz Leila Diniz, vai abrir o 54º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro com exibição pelo Canal InnSaeiTV, nesta terça-feira (dia 7), às 20h. O longa realizado pela diretora e atriz Ana Maria Magalhães, que foi amiga de Leila, foi gravado originalmente em U-Matic, e depois remasterizado. Entrevistas e gravações novas juntaram-se às originais, de 1982, digitalizadas recentemente. Finalizado com tecnologia HD, o filme resgata a participação de Leila Diniz (1945-1972) na cultura moderna, artista que se posicionou pela liberdade das mulheres durante os anos mais duros da ditadura militar.

O documentário é o registro de um período e mostra imagens de filmes, fotos e cenas ficcionais vividos pela atriz Leila Diniz, revelando seu modo libertário de ser e agir numa época que inspirou avanços culturais e comportamentais no mundo inteiro. A famosa entrevista de Leila ao Pasquim, em 1969, despertou indignação dos militares e o desprezo das feministas que a achavam apenas vulgar. “Leila esteve à frente das mudanças sociais do seu tempo e a preservação de sua memória e divulgação de seu pensamento e ações são fundamentais para a manutenção dos avanços que fizemos graças a ela, uma atriz de cinema”, ressalta a diretora do documentário.

De acordo com Ana Maria Magalhães, os depoimentos foram colhidos quando a lembrança de Leila ainda estava fresca na memória dos diretores de cinema, atores, jornalistas e familiares. Entretanto, assim que as filmagens foram iniciadas o Centro Cultural Cândido Mendes, que idealizou o projeto para ser exibido na Mostra Leila Diniz – Dez anos depois, desistiu de produzi-lo porque o seu plano de investimento não funcionou como esperava. “Havia apenas um investidor: a atriz Sonia Braga. Mas as filmagens iam bem e eu decidi produzi-lo com meus próprios recursos”, explica a diretora.

Autêntica e espontânea, Leila Diniz foi porta-voz de uma geração censurada. Conquistou corações e mentes sob o signo do amor e ao mesmo tempo gerou hostilidade dos defensores da moral e dos bons costumes, principalmente após posar de biquíni para uma revista, aos oito meses de gravidez. Leila falava abertamente sobre tudo, incluindo sua sexualidade. Como as rebeldes Janis Joplin e Amy Winehouse, Leila Diniz morreu aos 27 anos, em um acidente de avião na Índia, quando voltava de um festival de cinema na Austrália, onde recebeu o prêmio de melhor atriz.

Segundo Ana Maria, “o Brasil vive hoje tamanho retrocesso em relação às liberdades femininas, que as mulheres têm saído às ruas das principais cidades para protestar. E não é um revival dos anos 60. Mas a assombrosa perspectiva do fundamentalismo evangélico dos anos 2000, com o apoio de setores do Congresso e de parte da sociedade brasileira”, afirma a cineasta. que ninguém me tira para dançar, que é lançado 50 anos após a morte de Leila Diniz, tem coprodução do Metrópoles e apoio do Instituto Itaú Cultural.

A 54ª Festival de Brasília do Cinema Brasileiro acontece de 7 a 14 de dezembro e tem como tema O cinema do futuro e o futuro do cinema. Este ano, o festival vai exibir seus títulos virtualmente no site festcinebrasilia.com.br, em função da pandemia de Covid-19, como em 2020. A maratona de filmes, debates, masterclasses, oficinas, encontros setoriais e ambiente de mercado, tem curadoria de Sílvio Tendler e Tânia Montoro.