As delícias e riscos dos programas ao vivo

BASTIDORES

Lendas e mitos rondam o cotidiano dos apresentadores de programas ao vivo. Um universo que inclui muita maquilagem, algumas gafes e muito trabalho. Confira!

Por Gil Maciel*

A luz de várias lâmpadas esquenta o lugar, o pessoal da técnica avisa sobre uma mudança de no roteiro do programa. Mudou também a marcação das câmeras, o entrevistado ainda não chegou e o tempo do programa está estourado. Em suma, a confusão não é pouca. Da bancada de apresentação, é preciso dar um sorriso tranqüilo, dizer “boa noite” e começar mais um telejornal.

Tudo bem. Nem todo dia acontecem tantos imprevistos de uma só vez, mesmo assim, vida de apresentador não é moleza. Como acumulam a função de repórter ou editor com a de apresentador, esses profissionais são obrigados a alternar estados de ânimo. Num momento têm de ser ágeis, precisos na apuração da informação. Em outro, têm que estar calmos e seguros, para, a sempre cheia de imprevistos, apresentação do programa. E há ainda a questão da aparência.

Quem vê Kátia Guzzo apresentando o BA-TV na tranqüilidade, não imagina que ela passou a tarde num corre-corre danado, escrevendo notas, apurando informações e organizando as entradas do Bahia Agora. “Eu já saio de casa com uma maquiagem mais leve, para apresentar os fleshes. Na hora do jornal, reforço com uma mais adequada às luzes do estúdio”. Por conta do trabalho Kátia não toma sol: “a pele bronzeada brilha mais. Fica mais oleosa, dificultando a aderência da maquiagem. Além disso, sol faz mal a saúde”, explica.

Quem também se preocupa com o sol é Adriana Nogueira que, além de fazer reportagens, ainda tem que estar prontinha para a apresentação do Band Cidade, a cada começo de noite. “Adoro praia, mas hoje em dia, sempre que vou coloco um bonê e filtro solar”. Por causa da maquiagem pesada Adriana conta que, ao contrário das outras garotas, prefere sair de casa de cara limpa “com rosto lavado, sem maquiagem, já que, à noite, vou receber uma carga de cosméticos”.

A preocupação com o rosto é explicável. Enquadrados sempre em plano fechado, os apresentadores têm motivos de sobra para redobrar os cuidados com o rosto. “Na apresentação da reportagem, só conto com a expressão do meu rosto e a entonação da minha voz”, explica Adriana. Quem já se deu mal com tantos cuidados com a aparência foi Marcos Murilo, repórter e apresentador do Aratu Notícias. De tanto fazer a barba diariamente, uma irritação na pele encravou um fio da barba, resultado a região infeccionou e ele acabou no Hospital Aliança por vários dias.

Kátia e Adriana optaram por usar cabelos curtos. “na bancada, qualquer fio de cabelo fora do lugar chama atenção e distrai o telespectador, o que não pode acontecer”, explica Kátia. Jóias devem ser discretas, roupas estampadas e com listras nem pensar (as listras finas viram cobrinhas animadíssimas e aí, adeus atenção ao que está sendo dito). O mínimo gesto e cada detalhe da roupa são pensados. Tudo deve ser sóbrio, ainda que descontraído, evitando que o telespectador preste mais atenção ao apresentador do que à notícia.

Há, ainda, a questão dos erros. Gaguejar ou pronunciar uma palavra errada, denota insegurança, portanto a habilidade de locução é necessária para ler sem errar, tem que ser articulada com a capacidade de improvisação. “Às vezes o roteiro muda e uma reportagem que iria entrar no terceiro bloco, entra no primeiro. É preciso mudar as páginas e as chamadas para o comercial”, diz Marcos Murilo. Nesse momento é preciso estar atento à nova seqüência de chamada das reportagens. “sempre antes de começar a apresentação, me preparo fazendo uma oração. Respiro fundo, procuro relaxar. Para que a apresentação ganhe em credibilidade”, revela.

“Tenho que ficar calma, para passar bem a informação, com espontaneidade”, completa Adriana. “Por ter um tempo muito curto, o BA-TV permite, no máximo, expressões de olhar. É preciso muita habilidade para fazer a locução sem errar”, arremata Kátia.

 

*Reportagem publicada originalmente no Revista da TV, do jornal A TARDE, em 1° de julho de 2001.