Pelo direito de sonhar

Pensando em algumas coisas que me aconteceram neste fim de semana e que me remeteram a um passado não muito distante, resolvi me permitir reler Uma leve esperança, de Lannoy Dorin. Já havia lido esse livro há uns quatro ou cinco anos, e não sei se por ter passado por todos os conflitos e questionamentos que o jovem Antonio Carlos, o Toninho – personagem-narrador do livro – tive uma nova visão. Uma completa percepção de detalhes que a adolescência não me permitia entender e que agora puderam ser esclarecidos e elucidados.

Na época em que o li pela primeira vez, compartilhava com Toninho a angústia de não me entender, não compreender e de não ser compreendido pelo mundo. Além da busca quase que utópica pela independência, tão almejada por todos os jovens, sempre acompanhada de frustrações quando se chega a maior idade e se depara com uma realidade cruel. Toninho é um adolescente, filho de pais separados, tentado se libertar da mãe, que deseja amarrá-lo nas suas teias de insatisfações e angústias. O pai não lhe dá atenção e é outro neurótico por nunca ter sido o homem bem sucedido que idealizará. Em meio a esse caldeirão de turbulência Toninho encontra Dorinha e começa a viver um grande amor.

O livro aborda os questionamentos sobre como Toninho resolverá a sua crise familiar, se ficará definitivamente enrolada nas manias da mãe ou continuará tentando libertar-se para conquistar seu espaço, encontrando forças para abrir seus próprios caminhos ou se perderá nos desencantos do pai e da mãe? Acabei de completar 20 anos e ainda busco essa independência tão sonhada nos tempos de escola. Lannoy resume isso, quando escreve: “(…) É o que sempre digo: até 18 anos não existe liberdade. Depois dos 18, a gente vai ver. Há uma leve esperança que exista”. (DORIN, Lannoy, 1985, p.53).

Dois anos após ter passado pela “barreira” que limita essa “leve esperança”, me pergunto se somos realmente livres? Creio que nunca estaremos desprendidos de tudo e de todos que nos amarram em nossa trajetória de vida. Presos por grossas correntes como escravos antes da abolição; como âncoras de navios atracados no porto; fincados como raízes de árvores centenárias à pessoas, lugares e objetos que marcaram a existência de cada um de nós. Nossos sonhos podem até serem frustrados e decapitados, mas nunca poderão cercear o direito de sonharmos!